Casagrande pede união de PT e PSB para derrotar presidente Jair Bolsonaro

Governador conclama PT e PSB a construírem consenso e unidade para derrotar Bolsonaro. Falas podem ser reinterpretadas à luz do contexto eleitoral do ES. Confira os principais trechos do discurso

Casagrande pede união de PT e PSB para derrotar presidente Jair Bolsonaro
O governador Renato Casagrande fez um discurso curto, mas cheio de mensagens importantes, na noite dessa quinta-feira (28), no evento de abertura do congresso nacional do seu partido, o PSB, em um hotel de Brasília. Diante do ex-presidente Lula (PT) e do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que formarão a chapa presidencial do PT e do PSB, Casagrande exortou os integrantes dos dois partidos a deixar de lado os projetos pessoais e as diferenças existentes em cada local (o que, por dedução, inclui o Espírito Santo). Também conclamou petistas e pessebistas a construir uma unidade para "derrotar o autoritarismo, a incompetência e a mentira”.

O foco do discurso do governador foi o cenário nacional e a eleição à Presidência. Em momento algum ele fez menção ao Espírito Santo. Mas sua fala assume um sentido muito particular se redirecionada ao contexto político-eleitoral do nosso Estado, até pelo momento em que é feita: embora unidos e coligados na eleição presidencial, PT e PSB estão afastados no Espírito Santo e, nos últimos dias, têm vivido o ápice da tensão entre seus líderes e dirigentes locais.

No discurso de pouco mais de sete minutos, Casagrande não mencionou nominalmente Jair Bolsonaro (PL), mas fez críticas agudas endereçadas ao atual presidente – adversário em comum do PSB, da federação formada por PT, PCdoB e PV e de outras forças de centro-esquerda que pretendem derrotar o projeto de poder de Bolsonaro.

"É bom que a gente possa pensar muito bem nas próximas eleições, para que a gente possa voltar à civilização, aos mandamentos civilizatórios”, defendeu Casagrande. O recado é claro: Bolsonaro para ele representa não só atraso social e econômico, mas um retrocesso civilizatório. Nas palavras de Casagrande, também representa a "degradação moral” do país.

Para o governador, uma parte minoritária da sociedade (nas entrelinhas: a que apoia Bolsonaro) tem expressado "comportamento desequilibrado”, "irracional” e "intolerante”, o que precisa, segundo ele, ser enfrentado com equilíbrio, racionalidade e tolerância. Na sua visão, "é urgente derrotar o autoritarismo, a incompetência, a mentira” (de novo: implicitamente, representados pelo atual governo).

Para isso, formulou Casagrande, é necessário que o PT, o PSB e outras forças progressistas esqueçam as diferenças pontuais, produzam consensos e construam unidade politica contra o adversário maior que os aproxima nessa luta. Segundo o chefe do Executivo capixaba, secretário-geral do PSB no país, é preciso que os dois partidos se agarrem naquilo que os unifica neste momento, em vez de se apegarem às diferenças e de investirem na separação.

"Nós só vamos fazer isso se conseguirmos construir unanimidade entre nós, construir consensos entre nós. Nós temos que nos agarrar naquilo que nos une, não naquilo que nos diferencia e não naquilo que nos desune”, disse ele, em mais uma fala revestida de significado específico se inserida no contexto eleitoral do Espírito Santo.

No momento, líderes locais do PT se mostram irredutíveis quanto ao lançamento da candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta. E, em recentes entrevistas, a presidente estadual do PT, Jackeline Rocha, disparou duras críticas ao governo Casagrande. Quer dizer, no momento PT e PSB têm enfatizado as "diferenças” no Espírito Santo, e o que tem prevalecido por aqui é a "separação”.

A fala do governador, assim, pode ser reinterpretada como um recado para o PT local, ou, digamos, um aceno diplomático em busca de um acordo de paz.

Sem declarar explicitamente apoio pessoal a Lula nem o tratar como o SEU candidato à Presidência, Casagrande rendeu homenagens ao ex-presidente (referido por ele como "presidente Lula”), expressou muito respeito ao petista e enfatizou o "papel fundamental” que lhe compete na construção dessa unidade necessária para derrotarem o inimigo em comum.

"Nesta construção, o presidente Lula tem um papel fundamental, pela sua liderança, por já ter sido presidente deste país, por conhecer com profundidade este país. Tem um papel por ser o candidato desta unidade que estamos apresentando neste congresso.”
Ou seja, Casagrande não tratou Lula como o candidato do Casagrande, mas como o candidato dessa "unidade” não só defendida como integrada por ele. O que, convenhamos, não é muito diferente…

No congresso nacional do PSB – oficialmente, o XV Congresso Constituinte da Autorreforma do PSB –, o partido de Casagrande oficializou o apoio a Lula na disputa pela Presidência. O congresso vai até este sábado (30).

Abaixo, você pode ler os principais trechos do pronunciamento de Casagrande:

Saudações a Lula e Alckmin
Cumprimento com muita alegria a presença do presidente Lula aqui entre nós. Muito bom ter aqui uma liderança tão importante como o presidente Lula. E a gente acolhe com muita alegria nos quadros do PSB Geraldo Alckmin, nossa liderança, militante e filiado ao Partido Socialista Brasileiro.

Autorreforma
É um momento importante para o PSB. É importante porque, na hora em que nós queremos transformar a realidade, a primeira condição é transformarmos a nós mesmos. Isso não significa mudar os nossos valores, mas significa a gente evoluir, avançar, inovar com relação às nossas ideias, com relação aos nossos programas, para a gente poder dialogar melhor com a sociedade. E é nesse sentido e com esse objetivo que o PSB discutiu e apresenta a autorreforma, para ajudar a gente a cuidar do agora, do presente, daquilo que é emergencial, urgente. Mas para cuidar também daquilo que é estratégico, que é o futuro do nosso país.

Voltar à civilização
É bom que a gente possa pensar muito bem nas próximas eleições, para que a gente possa voltar à civilização, aos mandamentos civilizatórios. Mas é muito bom que a gente possa pensar também nas próximas décadas.

Pacificar o país
A gente tem que construir consensos. É necessário que a gente construa consensos, que a gente pacifique este país. É necessário pacificar. E, para a gente pacificar, é necessário que a gente possa atuar, neste ambiente hostil que nós temos, neste tensionamento que temos em parte da vida pública brasileira.

Enfrentar a irracionalidade
Temos uma parte da sociedade com comportamento desequilibrado. E nós temos que ter comportamento equilibrado para enfrentar o desequilíbrio. Nós temos uma parte minoritária da sociedade que tem comportamento irracional. E a gente tem que ter racionalidade. Gente que é intolerante. Nós temos que ser tolerantes. E a sociedade é cada vez mais exigente e exige de nós que sejamos competentes para poder enfrentar uma realidade complexa que há muito tempo não enfrentávamos.

Construir consensos para derrotar a incompetência
É urgente derrotar o autoritarismo, a incompetência, a mentira. Nós só vamos fazer isso se conseguirmos construir unanimidade entre nós, construir consensos entre nós. Nós temos que nos agarrar naquilo que nos une, não naquilo que nos diferencia e não naquilo que nos desune.

Degradação moral
O país passa por um momento de degradação econômica, degradação social, degradação ambiental. Passa por um momento de degradação moral. Para mudar essa realidade, é preciso construir uma ação que possa nos levar adiante para um projeto de país que defenda a democracia, soberano e que seja justo na área social.

Deixar de lado projetos pessoais
Uma ação política dessas só se constrói se a gente deixar de lado projetos pessoais. Deixar de lado mesmo projetos pessoais. Deixar de lado a separação e as diferenças que a gente tem em cada local. […] O PSB dá um passo. Um passo em direção à convergência. […] Aquilo que o PSB fez mostrou que nós podemos ser independentes, autônomos, e ao mesmo tempo ser um cimento que unifique e que construa um projeto unitário para este país. […] Nós temos que ser independentes, mas um veículo de construção da nossa unidade.

O papel de Lula
Nessa construção, o presidente Lula tem um papel fundamental, pela sua liderança, por já ter sido presidente deste país, por conhecer com profundidade este país. Tem um papel por ser o candidato desta unidade que estamos apresentando neste congresso.

O papel de Alckmin
O Geraldo Alckmin tem a sua importância, pelo papel que exercerá e pelo papel que já exerceu. Duas lideranças importantes, que terão a capacidade de liderar, de debater temas fundamentais da reconstrução do nosso país.

Trabalho de todos
Mas nós não podemos deixar isso nas mãos de algumas pessoas. Esse é um trabalho de todos nós, lideranças, filiados a partidos democráticos, que quer [sic] de fato construir um país melhor para todos os brasileiros.

Coluna Victor Vogas, ES 360




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