Casagrande chama o PT para conversar sobre eleição ao governo

É o primeiro gesto concreto do governador no sentido de estabelecer um diálogo que pode resultar em aliança

Casagrande chama o PT para conversar sobre eleição ao governo
O governador Renato Casagrande (PSB) chamou representantes do PT para conversar sobre o processo eleitoral no Espírito Santo. É o primeiro gesto concreto do governador no sentido de estabelecer com o PT um diálogo que pode resultar em algum tipo de aliança entre PT e PSB nas eleições estaduais.

O encontro está sendo realizado na noite desta terça-feira (12) na Residência Oficial, na Praia da Costa. O presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, foi escalado para representar o partido ao lado de Casagrande. Em conversa com a coluna, resumiu assim a pauta: "Houve um alinhamento nacional entre PSB e PT. Agora precisamos nos alinhar no Espírito Santo. É uma aproximação”.

Conforme a apuração da coluna, o PT seria representado no encontro por uma comitiva formada pela presidente estadual, Jackeline Rocha; o vice-presidente estadual, João Coser; o deputado federal Helder Salomão; a deputada estadual Iriny Lopes; o ex-deputado estadual Nunes; e o secretário de Formação Política do partido, Alexandre Mamute.

Casagrande ainda não o admitiu publicamente, mas não há no Espírito Santo quem duvide que ele será candidato à reeleição, pelo PSB. Por sua vez, o PT lançou em fevereiro a pré-candidatura do senador Fabiano Contarato ao Palácio Anchieta. Os dois partidos estão inseridos no mesmo campo político-ideológico, a centro-esquerda, e já decidiram se coligar na eleição presidencial. Nacionalmente, o PSB apoia o ex-presidente Lula (PT).

Na última sexta-feira (8), o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, recém-filiado ao PSB, foi oficialmente lançado pelos socialistas como pré-candidato à Vice-Presidência na chapa de Lula – uma dobradinha já bastante avançada e que deve ser oficializada nas convenções de julho. Como compensação pelo apoio do PSB a Lula, o PT vai apoiar os candidatos do PSB em alguns estados, como o Rio de Janeiro (Marcelo Freixo) e Pernambuco (Danilo Cabral). Em seu estado natal, Lula demoveu o senador Humberto Costa (PT) de concorrer ao governo.

Quanto ao Espírito Santo, pairam grandes incertezas em relação aos rebatimentos, ou não rebatimentos, dessa aliança nacional na eleição ao governo do Estado.

Em fevereiro, Casagrande chegou a receber na Residência Oficial o ex-juiz Sergio Moro, então candidato à Presidência pelo Podemos e arqui-inimigo de Lula, em gesto que enfureceu petistas no Espírito Santo. Pouco depois, o PT lançou Contarato ao governo. A guerra de nervos prosseguiu até que Casagrande fez um primeiro gesto apaziguador: no dia 14 de março, declarou neste espaço que "não teria problema algum em votar novamente no presidente Lula”. Dentro do PT, a fala soou como um primeiro aceno em busca de uma reaproximação política e da construção de uma aliança eleitoral.

Entretanto, no dia 27 de março, durante o congresso estadual do PSB, Casagrande nem chegou a citar Lula. Discursando à militância, ao falar da eleição presidencial, mencionou o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, e sugeriu que as alianças nacionais do PSB não necessariamente serão replicadas no Espírito Santo, pois a prioridade do partido no Estado é preservar a grande aliança do movimento liderado por ele. A fala foi feita diante do presidente estadual do PDT, Weverson Meireles. Já o PT não se fez representar no evento do PSB.

O dilema de Casagrande

Para sabermos se o PT e o PSB caminharão ou não juntos no Espírito Santo, a primeira grande questão diz respeito ao próprio Casagrande: afinal, ele quer ou não quer incorporar o PT à sua coligação já extensa e multifacetada, que reúne partidos de esquerda (PCdoB), centro-esquerda (PV, PDT) e centro-direita (Podemos, PP)?

Se o governador quiser atrair o PT, a cúpula nacional do PSB, da qual ele é parte, pode incluir o Espírito Santo no seu pacote de desejos, isto é, na lista de contrapartidas apresentada à cúpula do PT: "Lula, Gleisi etc., também queremos o apoio dos petistas à reeleição de Casagrande no Espírito Santo”.

Se a direção nacional do PT atender a esse pleito do aliado, a candidatura de Contarato será removida de cima para baixo, por imposição da nacional (e o próprio senador já se apressou a dizer que, se for essa a determinação superior, acatará a ordem no ato).

Mas não é tão simples: nesse caso são os petistas capixabas que esperam uma retribuição por parte de Casagrande. Aliás, duas: em primeiro lugar, esperam que o governador manifeste apoio integral a Lula e abra o seu palanque no Espírito Santo para a reeleição do petista – prioridade absoluta do PT nestas eleições gerais; em segundo lugar, desejam que Casagrande abra espaço em sua chapa majoritária para acomodar um nome do PT (como candidato a senador ou a vice-governador apoiado pelo socialista).

Se Casagrande estiver mesmo disposto a cumprir tais condições, ele mata na origem um problema enorme para si mesmo e que pode crescer ainda mais nos próximos meses: um problema chamado Fabiano Contarato.

Se o senador for mantido no páreo até o fim, ele tem potencial para, no mínimo, tirar muitos votos de Casagrande dentro do mesmo campo, dividindo os eleitores capixabas de centro-esquerda e favorecendo os outros candidatos que hoje se multiplicam no polo de centro-direita: Guerino Zanon (PSD), Erick Musso (Republicanos), Aridelmo Teixeira (Novo), Carlos Manato (PL) e Felipe Rigoni (União Brasil), que muito agradecem o favor. Se de fato figurar na urna, Contarato não vai tirar votos de Erick ou Manato, mas do próprio Casagrande. Por isso, convém ao governador vê-lo fora.

Mas se for por esse caminho, ao mesmo tempo em que se livra de um problema, Casagrande gera outros para si mesmo. As duas condicionantes do PT são muito complicadas para ele equacionar.

Além de atrair para si o antipetismo e a rejeição a Lula mantida por grande parte do eleitorado capixaba, o governador pode desagradar a muitos aliados que já estão há muito tempo na sua coalizão, sentados em assentos "do corredor”, para atender a um "novo antigo aliado” que no momento não tem lugar no "Busão do Casão”, mas que já chegaria ocupando um assento "na janelinha”.

É uma complexa engenharia eleitoral que Casagrande vai ter que operar se quiser mesmo ter o apoio do PT. Frise-se: se quiser mesmo.

Fonte: ES 360, coluna Victor Vogas





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