Casagrande admite que sabia de “boatos” quando exonerou secretário da Fazenda e elogia Lula

Ele sustentou, no entanto, que essa não foi a causa da exoneração de Rogélio Pegorreti do cargo, mas sim “questões pessoais”. Ex-secretário foi preso na Operação Decanter e é suspeito de ter recebido R$ 750 mil em propina

Casagrande admite que sabia de “boatos” quando exonerou secretário da Fazenda e elogia Lula
Comentando pela primeira vez a prisão do seu ex-secretário estadual da Fazenda, Rogélio Pegoretti (PSB) na Operação Decanter, o governador Renato Casagrande (PSB) admitiu que, quando o então secretário foi exonerado por ele, há cerca de um ano, ele mesmo já tinha ouvido "boatos” de que alguns empresários estariam "usando a substituição tributária para fazer sonegação de tributos”.

Ele sustentou, no entanto, que essa não foi a causa da exoneração de Rogélio do cargo, mas sim "questões pessoais”. Casagrande ainda disse que "não tem compromisso com o erro”. As declarações do governador foram dadas na edição de estreia da segunda edição do telejornal Estúdio 360, na noite desta segunda-feira (25).

"Ele [Rogélio”] não saiu por causa disso. Tinha não informações, mas boatos de que existia, sim, uma possibilidade de as pessoas estarem usando a substituição tributária para fazer sonegação de tributos, não de um ato criminoso de desvio de dinheiro público por parte de um agente político, mas sim para sonegação de tributos. Isso era boato que existia e que a gente ouviu falar. Mas a saída dele não teve nada a ver com o processo de investigação, até porque ele não era uma pessoa investigada. De fato, ele saiu por questões pessoais.”

No último dia 12, em parceria com a Receita Estadual, o Ministério Público Estadual (MPES) deflagrou a Operação Decanter, que desmontou uma suposta quadrilha de empresários do comércio de vinhos formada para sonegar impostos (ICMS). A organização criminosa teria gerado um rombo de R$ 120 milhões aos cofres do estado e contaria com a participação de dois agentes públicos, entre eles o então secretário estadual da Fazenda, Rogélio Pegoretti. Ao fim das investigações, ele pode ser denunciado pelo MPES por corrupção passiva.

As investigações da Decanter começaram em 2020, a partir de fiscalizações realizadas pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP), órgão de inteligência da Receita Estadual, mirando inicialmente empresários do setor de vinhos. No ano seguinte, a partir de informações compartilhadas pelo NEP, o MPES instaurou o inquérito para aprofundar as investigações.

No começo de agosto de 2021, Casagrande exonerou Rogélio Pegoretti, sob a justificativa oficial de "motivos pessoais”. Em fevereiro deste ano, o ex-secretário foi formalmente incluído no rol de investigados pelo MPES no inquérito que culminou com sua prisão, em 12 de julho.

Por meio de quebra de sigilo fiscal e bancário e de interceptação telefônica e telemática, os promotores de Justiça reuniram indícios de que, enquanto esteve no cargo, o ex-secretário pode ter recebido R$ 750 mil em propina para favorecer os interesses da quadrilha de sonegadores, além de ter experimentado uma evolução patrimonial incomum desde 2019, ano em que assumiu a Secretaria da Fazenda.

Na entrevista ao Estúdio 360, Casagrande respondeu como encarou a prisão de Rogélio. Frisou que o ex-secretário começou a ser investigado pelo MPES após ter sido desligado do cargo, que ele precisa ter a oportunidade de se defender no decorrer do devido processo legal e que, na verdade, foi a transparência da sua administração que permitiu a identificação de práticas lesivas aos cofres públicos, uma vez que as investigações tiveram origem na Receita Estadual, órgão subordinado à própria Secretaria da Fazenda – portanto, ao próprio governo.

"Encarei [a prisão] institucionalmente. Nós participamos da investigação. A Secretaria da Fazenda participou, liderando a investigação. Nossa equipe da Secretaria da Fazenda. Então nós demos toda a colaboração. O ex-secretário Rogélio começou a ser investigado, pela informação que nós temos, no início deste ano, quando ele estava fora da Secretaria da Fazenda. Se a prisão dele foi justa ou não, não me cabe aqui fazer o julgamento. O que cabe é que ele tenha oportunidade também de se defender, com base no processo. Eu não tenho compromisso com o erro. Se ele errou ou não, é a Justiça que vai decidir. O que nós queremos, no estado que é o mais transparente do Brasil, é que essa transparência nos permita identificar qualquer desvio.  E foi essa transparência nossa, no nosso governo, que fez com que a gente pudesse estar participando desse debate, e o compromisso nosso com a verdade para que a gente pudesse chegar a identificar esses possíveis erros de desvios de recursos através de atos da Secretaria da Fazenda”, assinalou Casagrande.

Na entrevista ao Estúdio 360, o governador também deu declarações importantes sobre a escolha de Ricardo Ferraço (PSDB) como seu candidato a vice-governador, as pré-candidaturas de Rose de Freitas (MDB) e de Alexandre Ramalho (Podemos) ao Senado por sua coligação, sua aliança com o PT, seu apoio a Lula (PT) na corrida presidencial, sua relação política com Fabiano Contarato (PT) e a faixa ideológica ocupada por ele na disputa pelo Palácio Anchieta.

Confira:

Por que Ricardo para vice?
"Primeiro que a gente tem uma relação muito boa. A gente tem uma relação pessoal, política. Nós estivemos trabalhando juntos na eleição de 2018. Ele não teve sucesso na eleição. Mas mantivemos uma relação próxima, pessoal e política. E Ricardo é uma pessoa que tem experiência na administração. E eu compreendo que, assim como está fazendo a vice-governadora Jacqueline [Moraes], um vice-governador ou uma vice-governadora precisa colaborar na administração pública. E a experiência do Ricardo é uma garantia de que nós teremos uma pessoa com capacidade de me ajudar a governador, caso a gente consiga a vitória no processo eleitoral. Vamos trabalhar muito para isso. E também pelas suas relações. Pela relação que ele tem no Estado com a sociedade. Pela relação que tem em Brasília, por ter sido deputado federal, por ter sido senador da República.”

Rose é mesmo sua candidata ao Senado?
"A senadora Rose de Freitas é uma possibilidade real de a gente poder montar a chapa, até porque tem alguns partidos da base que compõe a minha aliança que defendem o nome dela. Mas nós temos alguns outros partidos que também discutem outros nomes. O Podemos tem a pré-candidatura do Ramalho. O Podemos terá que debater com ele e conosco qual vai ser o desfecho desse processo. O Da Vitória também se colocou, mas, na minha avaliação, o PP está caminhando mais para ter uma composição forte na chapa de deputado federal, porque a prioridade do PP é eleger uma boa bancada de deputados federais, então pode ser que o PP caminhe efetivamente para fortalecer a chapa de federal com a presença do deputado Josias da Vitória à reeleição. Então, tenho uma relação muito próxima com a senadora Rose de Freitas e, nas próximas horas, nesses próximos dias, até sexta-feira, a gente vai ter uma decisão e um desfecho com relação ao tema do Senado, dependendo muito dos encaminhamentos que o MDB está fazendo em torno da candidatura da senadora Rose e dos encaminhamentos que o Podemos está fazendo em torno da candidatura do Ramalho.”

Ele apoia a candidatura avulsa de Ramalho?
"Uma candidatura separada pode acontecer, mas depende muito do partido [Podemos], daquilo que o partido quer em termos de estratégia eleitoral.”

Por que Lula para presidente?
"O presidente Lula teve resultados efetivos e objetivos quando foi o presidente da República. Conseguiu trazer para o nosso estado algumas vitórias importantes, como é o caso das escolas técnicas e investimentos em infraestrutura, na área do setor elétrico, por exemplo. Teve um trabalho importante na redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil. Essas são razões que destacam o trabalho feito pelo presidente Lula na época em que governou o país. E, efetivamente, de forma muito pragmática e concreta, o meu partido fez a coligação com o Partido dos Trabalhadores. O candidato a vice-presidente da República [Geraldo Alckmin] é do meu partido. Eu sou o secretário-geral da Executiva Nacional [do PSB]. Então, por coerência, eu tenho naturalmente uma candidatura, que é partidária. Pessoalmente, a minha candidatura é em torno da minha candidatura e da posição política do PSB nacional.”

Acusações contra o ex-presidente
"Não é possível você fazer um cálculo do que é melhor, do que é pior. Agora, o pior na política é você mentir e esconder a sua posição. As pessoas sempre me conheceram como um dirigente do Partido Socialista Brasileiro. Todos os meus mandatos que eu tive e todas as minhas disputas que fiz no estado do Espírito Santo foram pelo Partido Socialista Brasileiro. Eu já tive um vice-governador do Partido dos Trabalhadores. Foi Givaldo Vieira. Tive Ana Rita Esgário, também do Partido dos Trabalhadores, como primeira suplente do Senado. Segundo suplente do PL, Esmael Almeida. E as pessoas nunca me viram desequilibrar. Sempre me viram com uma posição ponderada, equilibrada. Eu sou uma pessoa do diálogo, do consenso. As pessoas me conhecem, conhecem minha família, conhecem minha posição. Eu sou uma pessoa previsível. As pessoas podem olhar para mim, podem concordar ou podem discordar, mas eu não vou olhar para um lado e seguir em direção ao outro lado. As pessoas me conhecem, sabem que eu sou respeitoso com quem pensa diferente de mim. A pessoa tem o direito de escolher o seu candidato a presidente da República. Eu tenho o meu candidato a presidente da República, que está em sintonia com aquilo que meu partido fez em nível nacional. A eleição nacional acontece ao mesmo tempo que a eleição estadual, então o melhor é que a gente seja franco com a sociedade e respeitoso com quem quiser tomar qualquer posição.”

Contarato o apoiará?
"Tenho uma relação boa com Fabiano Contarato. Sempre tive uma relação boa com ele. Antes de ele se filiar ao Partido dos Trabalhadores, eu fiz o convite para ele se filiar ao Partido Socialista Brasileiro. No Senado, ele me ajuda nas pautas que eu peço ajuda. Então não tenho nenhuma dificuldade com ele. Temos o ambiente adequado para que ele possa ajudar e colaborar na minha campanha. Ele pertence a um partido que é muito disciplinado. Então, a minha expectativa é que nós estejamos trabalhando juntos.”

Ele é o "candidato da esquerda”?
"Eu sou também o candidato da esquerda. Mas, em todas as eleições que eu ganhei e que eu não ganhei, nós sempre fizemos alianças amplas. Acho que esse é o segredo também do sucesso do nosso estado: tanto nos meus dois governos como nos governos do ex-governador Paulo Hartung, quase todas as alianças nossas foram alianças amplas, que não ficaram demarcadas num campo ideológico. Eu tenho o apoio de partidos de centro-esquerda, progressistas, como é o caso do PSB e do PT. Mas também tenho o apoio de partidos de centro, como é o caso do PSDB e do MDB. E tenho o apoio de partidos mais à direita, como é o caso do PP. Então, a minha aliança é uma aliança ampla, mas de fato tem uma conexão, sim, com o campo progressista, porque também é a minha origem. Eu sou de um partido de centro-esquerda, democrático, progressista, então é mais do que natural que eu possa representá-los. Mas não acho adequado que uma candidatura represente só uma faixa ideológica.”
 
Fonte: Portal ES 360





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