Com o goleiro Bruno ainda nos planos do São Mateus, mulheres da cidade fazem protesto

Grupo divulga carta aberta repudiando a possível contratação do jogador para o Pitbull

Com o goleiro Bruno ainda nos planos do São Mateus, mulheres da cidade fazem protesto
O anúncio que o goleiro Bruno, condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio, mãe do seu filho, Bruninho, pode reforçar o São Mateus para o Campeonato Capixaba 2020 está gerando polêmica na cidade do Norte do Espírito Santo. Neste sábado um coletivo de mulheres do município divulgou uma carta aberta repudiando a possível contratação do jogador para o Pitbull do Norte.

Na carta (veja a íntegra abaixo), o BELAS - Coletivo auto-organizado de mulheres de São Mateus argumenta que a ressocialização de ex-presidiários é importante, mas Bruno não deve ser alçado à condição de ídolo do esporte. "Premiar feminicidas com contratos que elevem seus egos sob o argumento de que todos são dignos de ressocialização significa dizer que a vida que segue é a que vale".

Uma das representantes do grupo, Zenillza Pauli, reforça o repúdio à contratação de um atleta com esse perfil para o único representante da cidade no Campeonato Capixaba 2020. - No nosso coletivo não somos contrárias à ressocialização, todos devem ter oportunidades de mudança. No entanto, o retorno deste indivíduo aos espaços de referência para jovens e crianças reafirma que tirar a vida de uma mulher de forma bárbara é algo muito simples. E é contra isso que estamos lutando. Não vamos aceitar um tempo de violência autorizada - explicou Zenilsa.

Ela ainda afirmou que a carta aberta é a primeira ação do grupo repudiando a possível chegada do goleiro Bruno, e caso a negociação avance novas medidas estão previstas. - Havendo a permanência da possibilidade de contratação, o Coletivo Belas, como em outros momentos, vai planejar outras ações buscando sensibilizar a sociedade, principalmente as mulheres sobre a seriedade da ação do clube ao contratar esse jogador. Há uma mensagem de impunidade e não ficaremos caladas - disse.

Histórico de lutas em favor das Mulheres de São Mateus

De acordo com Zenilza Pauli, o BELAS - Coletivo auto-organizado de mulheres de São Mateus iniciou suas atividades em setembro de 2018 e hoje conta com mais mais de 80 mulheres ativistas cadastradas. O grupo se reúne uma vez por mês para estudo e bate papo.

- Nosso objetivo principal é fortalecer um coletivo de mulheres, com contato pessoal para além do ativismo das redes sociais. Estamos buscando o fortalecimento e pretendemos nos tornar uma referência para auxiliar mulheres vítimas de violência. No ano passado fizemos um ato público no Centro da cidade, quando a professora Regiane Silva foi brutalmente assassinada - lembrou.

Negociação entre Bruno e o São Mateus

De acordo com o presidente do Pitbull do Norte, Pedro Artur, Bruno foi oferecido ao clube, e após uma avaliação feita por uma enquete com os membros da diretoria, que também são torcedores, o nome do jogador foi aprovado. De acordo com o dirigente, uma definição sobre o caso deve acontecer ainda neste sábado, após o jogo contra o Rio Branco-ES, pela segunda rodada do Capixaba 2020.

Confira a carta na íntegra:

Nós do coletivo auto-organizado de mulheres de São Mateus, BELAS, viemos a público repudiar veemente a consideração de alçar a título de ídolo futebolista da cidade alguém condenado por assassinato qualificado de uma mulher, hoje crime tipificado como feminicídio. A vítima, Eliza Samúdio, com quem manteve relações e, inclusive, um filho, não teve oportunidade de ter, sequer, um velório, pois seu corpo até hoje não foi localizado.

Entendemos que a ressocialização é importante e é um direito que a todos assiste, mas entendemos também que há várias profissões que podem resgatar a dignidade humana sem alçar um feminicida à posição de ídolo.

O que ensinaremos às nossas crianças ao levá-las ao estádio? Que ídolos, enquanto sociedade, vamos reverenciar? Premiar feminicidas com contratos que elevem seus egos sob o argumento de que todos são dignos de ressocialização significa dizer que a vida que segue é a que vale... E por pensarmos diferente, dizemos não! Temos memória e temos que dizer que o assassinato de muitas mulheres, mães, filhas, fãs, independente da idade, profissão, etnia, tem que ser lembrado cotidianamente por toda a sociedade até ela aprenda e assuma outra forma de viver e conviver a história do ser mulher.

Não deixaremos que nenhum feminicídio seja esquecido, e cabe lembrar os feminicídios registrados em nossa cidade, entre elas, Josineia, Regiane, Edna, Laís, Eliete!

Seus nomes seguem conosco e são parte da nossa história!
Estamos na luta por todas nós! Reafirmamos que defendemos as nossas vidas, a autonomia sobre nossos corpos e vidas. Exigimos uma sociedade sem machismo e sem misoginia.
Nossa voz: "nenhuma a menos!"

São Mateus, 1° de fevereiro de 2020.

BELAS - Coletivo auto-organizado de mulheres de São Mateus

Fonte:  GloboEsporte.com/es.





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