Os fatos ocultos sobre a gourmetização de tudo que você precisa saber

Bruno Morett

Tuesday, 18 de August de 2015

comentários

A gourmetização de tudo é mais que uma realidade, mas ainda tem coisas que você precisa saber sobre isso."Quem ainda não se rendeu ao raio gourmetizador ao menos uma vez, que atire a primeira pedra."


Você sabe mesmo o que é comida gourmet?

 

KA-BUUUUUM! O Raio Gourmetizador foi lancado e tudo se transformou em gourmet. Tudo mesmo!

Basta um olhar atento ao andar na rua ou navegar na internet e a palavrinha estará lá para chamar sua atenção.

 

Se parar para pensar, nem mesmo o salão de festas e a varanda do seu prédio escaparam dessa moda e se transformaram em espaços gourmet.

 

E eu não duvidaria do risco de até você ter sido gourmetizado. Sim, você!

 

Mas a polêmica fica ainda mais aparente quando alimentos considerados simples, apenas por ter uma versão mais sofisticada, adquirem o carimbo de Comida Gourmet.

 

Você pode estar pensando... Mas que besteira! "Isso e só para tirar dinheiro do consumidor”!

 

Será mesmo?

 

Fique ligado por que tem verdades por trás disso que muitas pessoas não sabem.

 

Hoje essa expressão significa mais que um dos grandes clichês da culinária francesa na gastronomia atual.

 

Mas não se preocupe por que este artigo vai te ajudar a entender um pouco mais sobre a febre que já ganhou fãs e muitos inimigos.

 

Vem comigo?!


(Créditos cotidianastiras.wordpress.com)

 

Já faz um tempinho que essa palavra existe e de um tempo para cá o marketing acabou dando outro significado ao termo quando passou a utilizar em seus rótulos para chamar mais atenção dos consumidores.

 

Eles so não contavam com tamanha banalização da palavra "gourmet” que se tornou motivo de piada nas redes sociais. Um tiro que saiu pela culatra.

 

O fato é que moda da gourmetização se espalhou pelo mundo inteiro, mesmo em países onde a gastronomia nacional é reconhecida há muito tempo como algo quase sagrado.

 

Mas como brasileiro é sempre louco por uma novidade, a gourmetização de tudo ganhou ainda mais repercussão por aqui.

 

Outro fator para o tamanho desta febre é a utilização das redes sociais, um dos principais meios de comunicação dos tempos de hoje.

 

Até porque comer gourmet se transformou em mais do que alimentar-se, mas um símbolo de entretenimento e motivo de diferenciação social.

 

 

Ei, Você! Se você está gostando deste artigo, diz o que você acha aqui embaixo nos comentários!

 

Mas quando eu disse francês, é francês de origem!  Allez!

 

Foi o advogado, político e cozinheiro Brillat Savarin (o mesmo do último post) que lá criou esse conceito quando escreveu o livro "A fisiologia do gosto".


Na verdade, tudo nasceu da gourmandise, um hábito que designava as pessoas que tinham a capacidade de apreciar a comida pela sua qualidade, ou seja comiam pelo prazer envolvido com a comida.

 

É aquela história de tentar perceber todos os aromas da comida ao mesmo tempo em que come, tentando identificar os ingredientes, especiarias, texturas e sabores.

 

Para eles comer era um ritual de apreciação, portanto comer de pé, conversando e sem nem prestar atenção ao que tem na boca era considerado quase um pecado.

 

Era um costume de gente rica.

 

Os gourmandes chegavam a gastar fortunas com viagens e jantares em busca da refeição perfeita e do conhecimento em gastronomia.

 

E os gourmets eram apenas aqueles profissionais especialistas e treinados para classificação de alimentos.

 

Um Sommelier ou um Barista classificam vinhos e cafés de acordo com suas características e, portanto, poderiam ser chamados de gourmets.

 

Esses dois conceitos foram confundidos com o passar do tempo. No fim das contas, gourmets e gourmands são coisas distintas conhecidas apenas como gourmets.

 

E as confusões não param por aí.

 

 O título de gourmet passou a ser dado a produtos de qualidade, os "alimentos gourmet”. De certa forma esta palavra ficou agregada aos conceitos de padrão de qualidade superior e sofisticação.

 

Foi assim que chegamos hoje em dia a papinhas de bebê, ração para gato e até gelo gourmet... Mas esta é uma confusão mais moderna!

 

"Você sabe o que é caviar?! Nunca vi nem comi, eu só ouço falar..." (Zeca Pagodinho).

 

Trufas brancas e negras, caviar de esturjão, botarga e presunto cru são alguns dos artigos de luxo que sabemos que são excepcionais e caros.

 

Não é simplesmente "caro". São alimentos não encontrados tão facilmente ou não produzidos facilmente. Ou seja, demanda um processo bastante complicado.

 

Mas além deles, chocolates finos, vinhos, queijos e cafés especiais são produtos mais acessíveis que também podem custar mais caro por terem uma qualidade superior em comparação aos normais.

 

Um exemplo E o queijo, um produto que pode ser feito até em casa. Porm queijo parmesão original, para ser chamado assim, deve respeitar uma serie de padrões de qualidade.

Neste caso até a raça vaca e a idade são características que podem mudar este padrão.

 

Isso não significa apenas mais um queijo, mas uma responsabilidade que o produtor tem de entregar ao consumidor algo tão exclusivo, tal qual anunciado, no nome e no preço.

 

Por isso seria até justo chamar produtos desse tipo de gourmet.

 

A exclusividade era reservada a artigos importados para incentivar o consumo daquelas iguarias. E a mão do marketing já começa a agir deste ponto.

A lógica da qualidade, do prazer e da boa mesa era o que decidia se um alimento era bom ou ruim.

 

Mas se algo fosse chamado de "produto gourmet”, significava que ele tinha algo a mais.

 

A partir de então a propaganda conseguiu criar uma forma de fazer vender seus novos produtos.

 

Dizer que ele é GOURMET.

 

Isso não quer dizer que eles estavam te enganando ou qualquer coisa do gênero. Pelo contrário, é mais do que justo dar um destaque a um produto feito com ingredientes superiores e técnicas diferenciadas.

 

Fato: Nem sempre estas novas "comidas gourmets” respeitam altos padrões de qualidade.

 

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/e9ps3fw9v9gpx1sp6lozxlhom.jpg

 

Você se lembra do brigadeiro gourmet?

 

Essa foi uma das primeiras ondas de gourmetização das coisas e uma das origens do significado que a gente conhece hoje em dia por comida gourmet.

 

Um brigadeiro é uma preparação muito simples, que utiliza ingredientes caseiros e todo mundo pode fazer em casa.

Quando a receita passa a ter chocolates meio amargos com cacaus de origem reconhecida e leite condensado artesanal, a figura muda um pouco de foco.

 

O processo de gourmetização começou a ser ativado transformando esse doce em algo ainda mais especial.

 

E os reflexos imediatos foram três:

 

1.  O brigadeiro passou a ser mais do que aquela simples sobremesa nacional.

2. As pessoas correram loucas atrás de experimentar como um brigadeiro poderia ficar tão diferente.

3.  E o preço subiria a um patamar que não estávamos habituados a pagar por um brigadeiro.

 

Com isso, foram reinventados pouco depois o cupcake, a pipoca, o cachorro-quente, o hambúrguer e muitas outras coisas.

 

Até a água mineral não escapou dessa!

 

Quem não se lembra daquela água importada da garrafa cilíndrica que era caríssima. Por bem ou por mal era apenas água para beber.

 

A partir daí o cenário já estava pronto. A venda dessas comidas gourmetizadas vão de vento em popa. Era um sucesso atrás do outro.

 

O interessante é que esses produtos passaram a seguir um modelo um tanto quanto inusitado. Um modelo de comidas gourmet.

 

Preparei algumas dessas regras neste miniguia que vai te ajudar a identificá-los mais facilmente.

 

1.   Tem que ter como origem uma comida muito simples.

 

Essa é a graça da gourmetização. Transformar o que é normal e banal em alguma coisa muito chamativa.

 

O famoso cachorro quente da esquina, ou Podrão ganhou diversas versões como a da chef Roberta Sudbrack.

Chamado a partir daí de SudDog.

 

A pipoca, a coxinha de frango e o picolé recheado são exemplos ainda mais extravagantes.

 

2.   Tem que ser chamado de um jeito diferente e se tiver alguma língua estrangeira no meio e melhor ainda!

 

Vamos combinar que: Postar no Instagram "tomando picolé recheado no shopping" não tem graça nenhuma, não é?!

 

Agora, uma paleta de morango com leite condensado faz toda a diferença.

 

E a famosa carrocinha de cachorro quente? Ou melhor, o Food Truck..

 

Ou quem sabe um "Ceviche de atum com espuma de wasabi, Ecully, harmonizado com Terres de Benes Côtes de Provence”?

 

(Se você ainda não conhece esta história clique aqui)

 

Gostoso, não?!

 

3.   Tem que ter ingredientes pouco conhecidos, inusitados ou exóticos. Feitos artesanalmente e com técnicas muito diferenciadas.

 

É aqui que entram os ingredientes da Amazônia ou que caracterizam um povo ou uma região muito distante de você. Ou ainda ingredientes pouco conhecidos pesquisados a fundo por chefes de cozinha e cozinheiros para apresentar algo novo ao consumidor e como forma de resgatar um sabor esquecido.

 

O Chefe Alex Atala já chegou a servir formiga saúva cru junto a um cubo de abacaxi em seu restaurante. E promete que a sensação é incrível.

 

Da uma olhada aqui:

 http://domrestaurante.com.br/pt-br/sabor.html

 

Gostoso ou não, temos que concordar que para os hábitos alimentares do brasileiro de hoje isso não é normal.

 

Outras expressões como "slow cooked”, sous vide, espumas e bolhas, gelatinas, ares, esferificações, nitrogênio líquido, sprays e pós são algumas das técnicas da recentemente chamada gastronomia molecular.

 

Esta nova gastronomia de forma geral busca apresentar os ingredientes da forma mais surpreendente possível. Foi um maior sucesso com o chefe de cozinha Ferran Adrià, virando uma grande febre nos restaurantes do mundo inteiro.

 

O restaurante de Ferran foi eleito algumas vezes o melhor restaurante do mundo.

 

Os restaurantes de comida gourmet são diferentes. Para comprovar a ideia de sofisticação e qualidade, estes ambientes geralmente são muito bem decorados.

 

A pipoca gourmet, por exemplo, demorou algum tempo para ser lançada no mercado por conta do desenvolvimento da embalagem. Como os grãos de milho já vem estourados, manter a crocância por tempo prolongado era uma preocupação.

Até por que pagar quase 25 reais por uma pipoca de Lemon Pepper murcha seria uma decepção maior que perder a final do campeonato de futebol.

 

4.   No caso dos restaurantes a apresentação tem que ser impecável e surpreendente.

 

Um problema recorrente é que nem sempre e possível identificar e entender o que você está prestes a comer.

 

Porções reduzidas mal dão para matar a fome.

 

Esta é uma questão que divide opiniões.

 

Alguns reclamam que não vale a pena pagar caro por pouca comida, mas eu defendo que o que é bom de comer tem que vir em pequenas doses.

 

Do contrário existe um risco grande de enjoar daquilo ou de perder o valor de excepcionalidade que determinado alimento tem.

 

As críticas são mais pesadas ainda para restaurantes de gastronomia contemporânea. Foram eles que fizeram a fama de pratos grandes e comida pequena.

 

Está certo que um prato pode conter uma porção muito pequena (como no item dos ingredientes inusitados). Em um jantar com essa temática são servidos em média 10 a 15 pratos diferentes.

E como diz o ditado, é de grão em grão que a galinha enche o papo.

 

5.   Custo muito acima da média

 

É aqui que a mão do marketing mais trabalhou.

 

Para ingredientes, nomes e embalagens exclusivas, nada melhor que um preço também exclusivo para combinar.

 

Em alguns casos é justo o que se cobra, mas existem alguns absurdos por aí. Tem que ficar de olho e às vezes até questionar. Tenha em mente o sentimento de valer a pena. O que importa é que muita gente não gosta do preço salgado no fim das contas.

Quanto a isso, uma verdade é inegável: produtos assim só estão à venda porque tem gente que paga por eles.

 

6.   Tem uma grande proposta de marketing por trás.

 

Eles deram conta de fazer uma propaganda muito boa e conseguiram associar a palavra gourmet a bem-estar e prazer. Desta forma a linguagem com o consumidor ficou mais fácil. Ao invés de explicar os vários porquês de tal produto ser bom, a palavra gourmet dá conta disso de forma mais simples.

 

Tudo passou a ser gourmet!

Este se tornou o grande problema, por assim as coisas passam a não ter grandes diferenças entre elas.

 

7.  Virou motivo de diferenciação social

 

Quem pode, pode. E quem não pode se sacode. Mas ninguém quer se sacudir...

Todo mundo quer estar em evidência, na moda, fazendo coisas legais e sendo cool. E postar as fotos da sua ida ao restaurante famoso pode render algumas curtidas.

 

Você se torna uma pessoa tão excepcional e especial quanto à comida que você posta nas suas redes sociais. Pelo menos é isso que eles querem que você pense.

E o chefe de cozinha passa a ser um mero coadjuvante nesta história. Parece que as pessoas não comem mais porque sentem prazer por aquela comida.

 

Para um cozinheiro conseguir a expertise de criar um prato que seja agradável a ponto de entrar no cardápio do restaurante, são anos investidos em estudos, experiências e tentativas frustradas.

Dizer para alguém que comeu um prato gourmet parece ser mais relevante que o prazer oferecido por aquela refeição.

Perdeu-se o hábito de dar valor também aquele que cozinhou para você. E assim conceito de o que é ser gourmet ou gourmands ficou completamente perdido.

 

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/article-0-02be09a2000004b0-958_638x413.jpg

 

O problema da gourmetização de tudo é que as pessoas passaram a pensar que só pode ser bom se for gourmet.

 

Preciso te dizer: Isso é uma grande mentira!

 

Se um dia desses você quiser comer algo diferente da comida de casa. Tem que ser um hot dog ali naquele Food Truck e de sobremesa uma paleta mexicana.

O raio gourmetizador chegou tão longe que não dá mais para comer um cachorro quente na barraquinha da esquina e de sobremesa tomar um picolé

É como se junto da gourmetização acontecesse também a marginalização das comidas simples.

 

Comida boa não pode ter essas distrações de sofisticação, refinamento e extravagância.

 

É algo muito mais simples.

 

Comida boa tem que ser gostosa para você e fim de conversa. Ser chamada de gourmet ou não é uma questão mais superficial.

O importante é voltar a ter prazer por comer, independente de que comida for.

E para se desgourmetizar não é difícil. Alguns hábitos bem bacanas podem te ajudar a resgatar o verdadeiro significado de o que é gourmet.

 

Procure comer junto das pessoas que você gosta, reservando um tempo para isso. Não tem nada pior do que comer com pressa sem nem mesmo sentir o gosto da comida.

 

Saber cozinhar não é um problema, porque até coisas muito simples podem dar uma satisfação sem igual.

 

Meu irmão não faz gastronomia, mas faz uma pipoca com manteiga que eu já aceitei que nunca vai sair igual a minha. É um fato!

 

E ainda assim com a internet hoje em dia, aprender novas técnicas culinárias assistindo um vídeo no Youtube se tornou mais fácil.

 

Um bom exercício para conhecer novos pratos e sabores é experimentar receitas novas... experimente mesmo, sem medo e sem saber se vai dar certo!

 

Mas se o resultado for bom e você gostar, convide os amigos e repita.

 

Para isso, procure comprar legumes, frutas e verduras nos mercados locais, ou nas famosas feiras do bairro. Geralmente os vegetais são mais frescos que os do supermercado.

 

Já pensou você conhecer a pessoa que planta a salada do almoço da família no domingo?

 

Converse com eles! Assim você vai saber de onde vieram aqueles vegetais e como foram cultivados.

 

Qualidade melhor que isso não há!

 

E a melhor dica que eu posso dar é: Confie no seu paladar!

 

Você nasceu com um termômetro natural que diz a você o que é bom e o que é ruim. Não desperdice seu tempo apenas seguindo o que as pessoas dizem. Experimente coisas novas!


Desgourmetize-se! Você vai ver que a vida pode ter muito mais sabor.

 

A prosa de hoje foi esta! Espero que você tenha gostado.

 

Na próxima prosa eu vou te mostrar alguns dos sites e blogs gastronômicos que eu gosto muito e que também podem te ajudar a desgourmetizar a vida.

 

Até lá!

 

Você sabe mesmo o que é comida gourmet?

 

KA-BUUUUUM!

 

O raio GOURMETIZADOR foi lançado e tudo se transformou em gourmet.

 

Tudo mesmo!

 

Basta um olhar atento ao andar na rua ou navegar na internet e a palavrinha estará lá para chamar sua atenção.

 

Se parar para pensar, nem mesmo o salão de festas e a varanda do seu prédio escaparam dessa moda e se transformaram em espaços gourmet.

 

E eu não duvidaria do risco de até você ter sido gourmetizado.

 

Sim, você!

 

Mas a polêmica fica ainda mais aparente quando alimentos considerados simples, apenas por ter uma versão mais sofisticada adquirem o carimbo de Comida Gourmet.

 

Você pode estar pensando...

Mas que besteira! "Isso e só para tirar dinheiro do consumidor”!

 

Será mesmo?

 

Fique ligado por que tem verdades por trás disso que muitas pessoas não sabem.

 

Hoje essa expressão significa mais que um dos grandes clichês da culinária francesa na gastronomia atual. Mas, não se preocupe por que este artigo vai te ajudar a entender um pouco mais sobre a febre que já ganhou fãs e muitos inimigos.

 

Vem comigo?!

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/wpid-sketch29416421.jpg

(Créditos cotidianastiras.wordpress.com )

 

Já faz um tempinho que essa palavra existe. De um tempo para cá o marketing acabou dando outro significado ao termo utilizando-os em seus rótulos para chamar mais atenção dos consumidores.

 

Eles não contavam com tamanha banalização da palavra "gourmet”, que, se tornou motivo de piada nas redes sociais. Um tiro que saiu pela culatra.

 

A moda da gourmetização se espalhou pelo mundo inteiro, mesmo em países onde a gastronomia nacional é reconhecida há muito tempo como algo quase sagrado.

 

Mas como o brasileiro é sempre fissurado por uma novidade, a gourmetização de tudo ganhou ainda mais repercussão por aqui.

 

Outro fator para o tamanho desta febre é a utilização das redes sociais, um dos principais meios de comunicação dos tempos de hoje. Até porque, comer gourmet se transformou em mais do que alimentar-se, tornou-se um símbolo de entretenimento e motivo de diferenciação social.

 

 

Ei, Você! Se você está gostando deste artigo, diz o que você acha aqui embaixo nos comentários!

 

Mas quando eu disse francês, é francês de origem!  Allez!

 

Foi o advogado, político e cozinheiro Brillat Savarin (o mesmo do último post) que lá criou esse conceito quando escreveu o livro "A fisiologia do gosto".

Na verdade, tudo nasce da gourmandise, um hábito que designava as pessoas que tinham a capacidade de apreciar a comida pela sua qualidade, ou seja comiam pelo prazer envolvido com a comida.

 

É história de tentar perceber todos os aromas da comida ao mesmo tempo em que come, tentando identificar os ingredientes, especiarias, texturas e sabores.

 

Para eles comer era um ritual de apreciação, portanto comer de pé, conversando e sem nem prestar atenção no que estava comendo era quase um pecado.

 

Era um costume de gente rica.

 

Os gourmands gastavam fortunas em viagens e jantares em busca da refeição perfeita e do conhecimento em gastronomia. Eram conhecidos por gourmet apenas aqueles profissionais especialistas e treinados na classificação de alimentos.

 

Um Sommelier ou um Barista classificam vinhos e cafés de acordo com suas características e, portanto, poderiam ser chamados de gourmets.

 

Esses dois conceitos foram confundidos com o passar do tempo. No fim das contas, gourmets e gourmands são coisas distintas conhecidas apenas como gourmets.

 

E as confusões não param por aí.

 

 

 

O título de gourmet passou a ser dado a produtos de qualidade, os "alimentos gourmet”. De certa forma esta palavra ficou agregada aos conceitos de padrão de qualidade superior e sofisticação.

 

Foi assim que chegamos hoje em dia a papinhas de bebê, ração para gato e até gelo gourmet.

 

Mas esta é uma confusão mais moderna!

 

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/caviar_prd_548_org.jpg

"Você sabe o que é caviar?! Nunca vi nem comi, eu só ouço falar..." (Zeca Pagodinho).

Trufas brancas e negras, caviar de esturjão, botarga e presunto cru são alguns dos artigos de luxo que sabemos que são excepcionais e caros.

 

Não é simplesmente caro!

 São alimentos não encontrados tão facilmente ou não produzidos facilmente. Ou seja, demanda um processo bastante complicado.

 

Mas além deles, chocolates finos, vinhos, queijos e cafés especiais são produtos mais acessíveis que também podem custar mais caro por terem uma qualidade superior em comparação aos normais.

 

Exemplo:

O queijo é um produto que pode ser feito até em casa. Um queijo parmesão original, para ser chamado assim, deve respeitar uma serie de padrões de qualidade.

Neste caso até a raça vaca e a idade são características que podem mudar este padrão.

 

Isso não significa apenas mais um queijo, mas uma responsabilidade que o produtor tem de entregar ao consumidor algo tão exclusivo, tal qual anunciado, no nome e no preço.

 

Por isso seria até justo chamar produtos desse tipo de gourmet.

 

A exclusividade era reservada a artigos importados para incentivar o consumo daquelas iguarias. E a mão do marketing já começa a agir deste ponto.

A lógica da qualidade, do prazer e da boa mesa era o que decidia se um alimento era bom ou ruim.

 

Mas se algo fosse chamado de "produto gourmet”, significava que ele tinha algo a mais.

 

A partir de então a propaganda conseguiu criar uma forma de fazer vender seus novos produtos.

 

Dizer que ele é GOURMET.

 

Isso não quer dizer que eles estavam te enganando ou qualquer coisa do gênero. Pelo contrário, é mais do que justo dar um destaque a um produto feito com ingredientes superiores e técnicas diferenciadas.

 

Fato: Nem sempre estas novas "comidas gourmets” respeitam altos padrões de qualidade.

 

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/e9ps3fw9v9gpx1sp6lozxlhom.jpg

 

Você se lembra do brigadeiro gourmet?

 

Essa foi uma das primeiras ondas de gourmetização das coisas e uma das origens do significado que a gente conhece hoje em dia por comida gourmet.

 

Um brigadeiro é uma preparação muito simples, que utiliza ingredientes caseiros e todo mundo pode fazer em casa.

Quando a receita passa a ter chocolates meio amargos com cacaus de origem reconhecida e leite condensado artesanal, a figura muda um pouco de foco.

 

O processo de gourmetização começou a ser ativado transformando esse doce em algo ainda mais especial.

 

E os reflexos imediatos foram três:

 

1.  O brigadeiro passou a ser mais do que aquela simples sobremesa nacional.

2. As pessoas correram loucas atrás de experimentar como um brigadeiro poderia ficar tão diferente.

3.  E o preço subiria a um patamar que não estávamos habituados a pagar por um brigadeiro.

 

Com isso, foram reinventados pouco depois o cupcake, a pipoca, o cachorro-quente, o hambúrguer e muitas outras coisas.

 

Até a água mineral não escapou dessa!

 

Quem não se lembra daquela água importada da garrafa cilíndrica que era caríssima. Por bem ou por mal era apenas água para beber.

 

A partir daí o cenário já estava pronto. A venda dessas comidas gourmetizadas vão de vento em popa. Era um sucesso atrás do outro.

 

O interessante é que esses produtos passaram a seguir um modelo um tanto quanto inusitado. Um modelo de comidas gourmet.

 

Preparei algumas dessas regras neste miniguia que vai te ajudar a identificá-los mais facilmente.

 

1.   Tem que ter como origem uma comida muito simples.

 

Essa é a graça da gourmetização. Transformar o que é normal e banal em alguma coisa muito chamativa.

 

O famoso cachorro quente da esquina, ou Podrão ganhou diversas versões como a da chef Roberta Sudbrack.

Chamado a partir daí de SudDog.

 

A pipoca, a coxinha de frango e o picolé recheado são exemplos ainda mais extravagantes.

 

2.   Tem que ser chamado de um jeito diferente e se tiver alguma língua estrangeira no meio e melhor ainda!

 

Vamos combinar que: Postar no Instagram "tomando picolé recheado no shopping" não tem graça nenhuma, não é?!

 

Agora, uma paleta de morango com leite condensado faz toda a diferença.

 

E a famosa carrocinha de cachorro quente? Ou melhor, o Food Truck..

 

Ou quem sabe um "Ceviche de atum com espuma de wasabi, Ecully, harmonizado com Terres de Benes Côtes de Provence”?

 

(Se você ainda não conhece esta história clique aqui)

 

Gostoso, não?!

 

3.   Tem que ter ingredientes pouco conhecidos, inusitados ou exóticos. Feitos artesanalmente e com técnicas muito diferenciadas.

 

É aqui que entram os ingredientes da Amazônia ou que caracterizam um povo ou uma região muito distante de você. Ou ainda ingredientes pouco conhecidos pesquisados a fundo por chefes de cozinha e cozinheiros para apresentar algo novo ao consumidor e como forma de resgatar um sabor esquecido.

 

O Chefe Alex Atala já chegou a servir formiga saúva cru junto a um cubo de abacaxi em seu restaurante. E promete que a sensação é incrível.

 

Da uma olhada aqui:

 http://domrestaurante.com.br/pt-br/sabor.html

 

Gostoso ou não, temos que concordar que para os hábitos alimentares do brasileiro de hoje isso não é normal.

 

Outras expressões como "slow cooked”, sous vide, espumas e bolhas, gelatinas, ares, esferificações, nitrogênio líquido, sprays e pós são algumas das técnicas da recentemente chamada gastronomia molecular.

 

Esta nova gastronomia de forma geral busca apresentar os ingredientes da forma mais surpreendente possível. Foi um maior sucesso com o chefe de cozinha Ferran Adrià, virando uma grande febre nos restaurantes do mundo inteiro.

 

O restaurante de Ferran foi eleito algumas vezes o melhor restaurante do mundo.

 

Os restaurantes de comida gourmet são diferentes. Para comprovar a ideia de sofisticação e qualidade, estes ambientes geralmente são muito bem decorados.

 

A pipoca gourmet, por exemplo, demorou algum tempo para ser lançada no mercado por conta do desenvolvimento da embalagem. Como os grãos de milho já vem estourados, manter a crocância por tempo prolongado era uma preocupação.

Até por que pagar quase 25 reais por uma pipoca de Lemon Pepper murcha seria uma decepção maior que perder a final do campeonato de futebol.

 

4.   No caso dos restaurantes a apresentação tem que ser impecável e surpreendente.

 

Um problema recorrente é que nem sempre e possível identificar e entender o que você está prestes a comer.

 

Porções reduzidas mal dão para matar a fome.

 

Esta é uma questão que divide opiniões.

 

Alguns reclamam que não vale a pena pagar caro por pouca comida, mas eu defendo que o que é bom de comer tem que vir em pequenas doses.

 

Do contrário existe um risco grande de enjoar daquilo ou de perder o valor de excepcionalidade que determinado alimento tem.

 

As críticas são mais pesadas ainda para restaurantes de gastronomia contemporânea. Foram eles que fizeram a fama de pratos grandes e comida pequena.

 

Está certo que um prato pode conter uma porção muito pequena (como no item dos ingredientes inusitados). Em um jantar com essa temática são servidos em média 10 a 15 pratos diferentes.

E como diz o ditado, é de grão em grão que a galinha enche o papo.

 

5.   Custo muito acima da média

 

É aqui que a mão do marketing mais trabalhou.

 

Para ingredientes, nomes e embalagens exclusivas, nada melhor que um preço também exclusivo para combinar.

 

Em alguns casos é justo o que se cobra, mas existem alguns absurdos por aí. Tem que ficar de olho e às vezes até questionar. Tenha em mente o sentimento de valer a pena. O que importa é que muita gente não gosta do preço salgado no fim das contas.

Quanto a isso, uma verdade é inegável: produtos assim só estão à venda porque tem gente que paga por eles.

 

6.   Tem uma grande proposta de marketing por trás.

 

Eles deram conta de fazer uma propaganda muito boa e conseguiram associar a palavra gourmet a bem-estar e prazer. Desta forma a linguagem com o consumidor ficou mais fácil. Ao invés de explicar os vários porquês de tal produto ser bom, a palavra gourmet dá conta disso de forma mais simples.

 

Tudo passou a ser gourmet!

Este se tornou o grande problema, por assim as coisas passam a não ter grandes diferenças entre elas.

 

7.  Virou motivo de diferenciação social

 

Quem pode, pode. E quem não pode se sacode. Mas ninguém quer se sacudir...

Todo mundo quer estar em evidência, na moda, fazendo coisas legais e sendo cool. E postar as fotos da sua ida ao restaurante famoso pode render algumas curtidas.

 

Você se torna uma pessoa tão excepcional e especial quanto à comida que você posta nas suas redes sociais. Pelo menos é isso que eles querem que você pense.

E o chefe de cozinha passa a ser um mero coadjuvante nesta história. Parece que as pessoas não comem mais porque sentem prazer por aquela comida.

 

Para um cozinheiro conseguir a expertise de criar um prato que seja agradável a ponto de entrar no cardápio do restaurante, são anos investidos em estudos, experiências e tentativas frustradas.

Dizer para alguém que comeu um prato gourmet parece ser mais relevante que o prazer oferecido por aquela refeição.

Perdeu-se o hábito de dar valor também aquele que cozinhou para você. E assim conceito de o que é ser gourmet ou gourmands ficou completamente perdido.

 

http://www.sitedelinhares.com.br//sitedelinhares.com.br/public/upload/Prosopopeia%20Gastronomica/article-0-02be09a2000004b0-958_638x413.jpg

 

O problema da gourmetização de tudo é que as pessoas passaram a pensar que só pode ser bom se for gourmet.

 

Preciso te dizer: Isso é uma grande mentira!

 

Se um dia desses você quiser comer algo diferente da comida de casa. Tem que ser um hot dog ali naquele Food Truck e de sobremesa uma paleta mexicana.

O raio gourmetizador chegou tão longe que não dá mais para comer um cachorro quente na barraquinha da esquina e de sobremesa tomar um picolé

É como se junto da gourmetização acontecesse também a marginalização das comidas simples.

 

Comida boa não pode ter essas distrações de sofisticação, refinamento e extravagância.

 

É algo muito mais simples.

 

Comida boa tem que ser gostosa para você e fim de conversa. Ser chamada de gourmet ou não é uma questão mais superficial.

O importante é voltar a ter prazer por comer, independente de que comida for.

E para se desgourmetizar não é difícil. Alguns hábitos bem bacanas podem te ajudar a resgatar o verdadeiro significado de o que é gourmet.

 

Procure comer junto das pessoas que você gosta, reservando um tempo para isso. Não tem nada pior do que comer com pressa sem nem mesmo sentir o gosto da comida.

 

Saber cozinhar não é um problema, porque até coisas muito simples podem dar uma satisfação sem igual.

 

Meu irmão não faz gastronomia, mas faz uma pipoca com manteiga que eu já aceitei que nunca vai sair igual a minha. É um fato!

 

E ainda assim com a internet hoje em dia, aprender novas técnicas culinárias assistindo um vídeo no Youtube se tornou mais fácil.

 

Um bom exercício para conhecer novos pratos e sabores é experimentar receitas novas... experimente mesmo, sem medo e sem saber se vai dar certo!

 

Mas se o resultado for bom e você gostar, convide os amigos e repita.

 

Para isso, procure comprar legumes, frutas e verduras nos mercados locais, ou nas famosas feiras do bairro. Geralmente os vegetais são mais frescos que os do supermercado.

 

Já pensou você conhecer a pessoa que planta a salada do almoço da família no domingo?

 

Converse com eles! Assim você vai saber de onde vieram aqueles vegetais e como foram cultivados.

 

Qualidade melhor que isso não há!

 

E a melhor dica que eu posso dar é: Confie no seu paladar!

 

Você nasceu com um termômetro natural que diz a você o que é bom e o que é ruim. Não desperdice seu tempo apenas seguindo o que as pessoas dizem. Experimente coisas novas!


Desgourmetize-se! Você vai ver que a vida pode ter muito mais sabor.

 

A prosa de hoje foi esta! Espero que você tenha gostado.

 

Na próxima prosa eu vou te mostrar alguns dos sites e blogs gastronômicos que eu gosto muito e que também podem te ajudar a desgourmetizar a vida.

 

Até lá!

 


 

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