“Infelizmente não pude assumir nenhuma pasta na atual gestão”, declara Eliana Dadalto

A deputada eleita afirma ter sido preterida na formação da equipe do prefeito Nozinho Correia (PDT).

“Infelizmente não pude assumir nenhuma pasta na atual gestão”, declara Eliana Dadalto
Politicamente, com a chegada da primeira mulher à Presidência da República, 2010 foi um marco "no que se refere” ao crescimento da representação feminina nos espaços de poder. No universo político estadual, o fenômeno também se refletiu, com o crescimento da bancada feminina no Congresso.

Mas, a julgar pelos resultados do último dia 5, a onda feminina recuou no Espírito Santo. No Congresso, em vez de cinco mulheres, a bancada do Estado passará a contar somente com a senadora eleita Rose de Freitas (PMDB) entre os seus 13 integrantes. Na Assembleia, o número de mulheres, que proporcionalmente já é baixo (na razão de uma deputada para cada cinco deputados), vai cair de cinco, na atual legislatura, para quatro, na próxima.

Nada que desanime as deputadas estaduais reeleitas, Janete de Sá (PMN) e Luzia Toledo (PMDB), e as novatas Raquel Lessa (SDD), ex-prefeita de São Gabriel da Palha, e Eliana Dadalto (PTC), vice-prefeita de Linhares. Ao invés de se deixarem intimidar com essa inferioridade numérica, as quatro entendem que o fato de serem as únicas representantes das mulheres no plenário aumenta ainda mais a responsabilidade da minoria formada por elas.

"Infelizmente não pude assumir nenhuma pasta na atual gestão”, diz Eliana Dadalto

Entre as barreiras ainda enfrentadas por mulheres no meio político, elas apontam a cultura machista que ainda predomina não só entre os dirigentes partidários, mas também na mentalidade de boa parte do eleitorado, inclusive do feminino.

Novata neste restrito grupo das mulheres eleitas, a vice-prefeita de Linhares, Eliana Dadalto (PTC) relata dificuldades pessoais. Apesar de ter sido secretária de Assistência Social em Linhares de 2005 a 2008, Eliana afirma ter sido preterida na formação da equipe do prefeito Nozinho Correia (PDT). "Infelizmente, mesmo sendo a atual vice-prefeita, não pude assumir nenhuma pasta na atual gestão.”

Ministra de Eucaristia e professora de Português no ensino fundamental, Eliana diz que sua maior luta na Assembleia será contra a violência em geral, especialmente contra as mulheres. "Pelo machismo que sempre imperou em nosso Estado e por falta de políticas sociais, as mulheres estão sofrendo diante desse ímpeto de violência. Precisamos ampliar as políticas de combate à violência na nossa região e no Estado em geral.”

Outra novata é Raquel Lessa, prefeita de São Gabriel da Palha de 2005 a 2012. "Não consigo entender a cabeça dos eleitores. As mulheres têm demonstrado bom papel em cargos de comando. Mas, na hora do voto, preferem votar em homens”, lamenta Raquel.

Ela evoca o próprio exemplo para mostrar como a presença de mulheres em cargos públicos tende a reverter o preconceito contra elas. "Minha primeira eleição para prefeita, em 2004, foi um divisor de águas. É um município conservador, muito ‘italiano’. Até então, nunca havíamos tido nem sequer uma vereadora. Vivi essa dificuldade na pele lá. Mas, já em 2008, quando viram que a mulher pode, sim, exercer o seu papel, foram eleitas três vereadoras.”

Veteranas analisam retração da bancada

Com experiência parlamentar, as duas únicas deputadas reeleitas, Janete de Sá e Luzia Toledo, lamentam a retração da bancada feminina e desfiam outros possíveis motivos que levaram a essa queda.

Para Janete, as próprias mulheres têm se sentido desmotivadas e até assustadas com a ideia de concorrer a mandatos, devido ao desgaste que pesa sobre a classe política. "A mulher trai menos, é mais honesta e mais séria. Então, tem dificuldade em transitar nesse meio altamente competitivo e machista. É um ambiente de disputa, deslealdade, corrupção, o que acaba amedrontando quem é sério.”

Luzia também acha que, em função da corrupção, muitas mulheres se sentem desencorajadas a entrar na política. Mas, para ela, a origem do problema está nos partidos, dirigidos majoritariamente por homens e com pouca abertura à participação feminina. "Eles têm a prática de usar as mulheres como tábua para cumprir a cota de 30% de candidatas. Precisamos que mais mulheres participem da construção dos partidos.”

Janete diz que vai empunhar a bandeira contra a violência doméstica. Luzia pretende unir forças com as demais em favor das mulheres e já as convidou a participar do 9º Fórum de Políticas Públicas para as Mulheres, em março.

Fonte: Gazeta Online | Foto: Ricardo Medeiros





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