Em Linhares, pela 1ª vez em 31 anos, Clam está sem aulas por falta de professores

A Prefeitura cortou o fornecimento de professores para atuar na instituição desde fevereiro. Mas, Lei Municipal de 1992 diz que município é responsável pela manutenção do efetivo de recursos humanos para a Entidade.

Em Linhares, pela 1ª vez em 31 anos, Clam está sem aulas por falta de professores
As crianças e adolescentes que frequentam o Centro Linharense de Amigos do Menor – CLAM, localizado na Rua Odilon Nunes Barroso, no bairro Planalto, estão sem atendimento por falta de professor desde fevereiro deste ano, início do ano letivo. O pai de uma criança é quem fez a denúncia no início deste mês. A prefeitura de Linhares afirma que as atividades no Clam estão funcionando regularmente, porém a coordenadora garante que o atendimento às crianças e adolescentes está paralisado.

Avelino Pereira Rosa pediu ajuda aos órgãos competentes, pois o Clam mandou a filha de 12 anos de volta para casa e ele não sabe o que fazer. "Minha filha ficava um horário na escola e o outro no Clam. Aprendia artesanato, computação e sempre já vinha alimentada da escola. Hoje tem que ficar em casa e nós precisamos trabalhar. É uma situação muito complicada”, disse seu Avelino. O morador disse que foi informado que a Prefeitura falou que não tem dinheiro para pagar os professores.

Maria Aparecida Paes Leme de Novaes, coordenadora geral do Clam, confirmou a informação. Ela disse que a instituição está sem professor desde fevereiro. Segundo ela, a secretaria municipal de Educação foi procurada por diversas vezes e nunca deu um retorno. Além dos professores, Maria Aparecida disse que a PML também custeava as serventes, assistente social e psicólogo. Ao todo eram 19 profissionais que atuavam nos dois turnos. Hoje, apenas a assistente social e a psicóloga estão trabalhando com recursos do próprio Clam. "Em 31 anos de existência, o Clam nunca passou por isso. O município tem uma lei que obriga a Prefeitura a arcar com os servidores. Como está nós não temos condições de trabalhar”, disse.

De acordo com a coordenadora, apenas cursos oferecidos pelo Sesi/Senai direcionados à comunidade e atendimentos psicológicos e sociais estão acontecendo no Clam. Além disso, alguns adolescentes também continuam frequentando o pátio para praticar esporte ao invés de ficarem na rua.
 
É lei!

A lei citada por Maria Aparecida é a de nº 1633, de 16 de junho de 1992, assinada pelo então prefeito Luiz Cândido Durão. O artigo primeiro do documento diz "Para fins de integração e participação das ações de trabalho da Fundação Centro Linharense de Amigos do Menor – CLAM, o Município de Linhares, através do Poder Executivo Municipal é responsável pela manutenção do efetivo de recursos humanos para a Entidade, cabendo-lhe a obrigação de colocar à disposição da mesma os Servidores necessários, de acordo com as solicitações da Diretoria do CLAM”. O Parágrafo Único complementa dizendo que "a Prefeitura Municipal atenderá à Entidade, com o remanejamento de pessoal do seu próprio quadro”.
 
 Pais, professores e direção estão inconformados com a situação.

"Tem criança passando fome em casa”, diz coordenadora

Maria Aparecida Paes Leme de Novaes, coordenadora geral do Clam, informou que a maioria das crianças atendidas na instituição está em vulnerabilidade social. Muitas são vítimas de violência e muitas não têm o que comer em casa. "Eu sei que tem crianças passando fome porque os pais estão desempregados. Muitas vinham para cá por causa da comida. Aqui elas recebiam duas refeições, participavam de atividades e ainda ganhavam amor e carinho. Hoje elas vêm aqui no portão perguntar quando as aulas vão voltar e eu não sei o que dizer”, disse.

A coordenadora disse também que várias diretoras das escolas do bairro já disseram que o rendimento, principalmente dos adolescentes, caiu muito depois que o Clam foi paralisado. "Esses meninos precisam de ajuda. Sem o Clam a criminalidade do bairro pode até crescer. Tem muita criança com potencial incrível, só precisam de oportunidade. Nós precisamos tocar o coração dos políticos para eles olharem nossa situação”.

Maria Aparecida disse que a secretaria de Educação deveria fazer uma proposta já que não tem condições de arcar com todos os profissionais. "Se colocaram pelo menos alguns professores, nós nos ajudamos fazemos o possível. O que não podemos é deixar essas crianças na rua. Até quando vão construir cadeias? Porque não dão oportunidade a essas crianças de serem pessoas boas?”, desabafou.








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