Voluntários tornam missas acessíveis a surdos através da língua de sinais

Quem possui o conhecimento da Língua dos Sinais pode ser um voluntário. O contato deve ser feito pelo email librasigreja@gmail.com ou pelo telefone (27) 3373-1900.

Voluntários tornam missas acessíveis a surdos através da língua de sinais
Um grupo de voluntários, formado por membros da igreja católica de Linhares e professores, tem deixado as missas na matriz Sagrado Coração de Jesus, no bairro novo Horizonte, acessíveis a quem não pode ouvir. É por meio das mãos, dos gestos e das expressões faciais que eles abrem as portas para a inclusão social e dão exemplo de cidadania através da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Aos domingos e em solenidades, os voluntários se revezam para garantir que os surdos da comunidade tenham acesso à palavra de Deus e aos ensinamentos da religião. 

A iniciativa é pioneira entre as igrejas católicas da cidade e já tem gerado bons resultados. O grupo surgiu quando parte dos membros se encontraram em um curso de Libras ministrado em Linhares, no ano de 2013. Entre eles estavam as professoras Eliana Ferreira Reis de Mello e Vânia Ferovante Helmer, e a deficiente auditiva, Sandriane Sepulcro de Almeida Ferovante. As três são membros da comunidade Sagrado Coração de Jesus, que faz parte da paróquia Santíssima Trindade, atualmente comandada pelo padre Antonio Luiz Pandolfi.

Juntas elas buscaram apoio para montar um grupo que pudesse não apenas ajudar a Sandriane durante as missas, mas também todos os deficientes auditivos da comunidade em outras atividades. "Nós percebemos que além dela havia outras pessoas que tinham essa necessidade. Por não ter intérpretes, muitos surdos não iam à igreja ou buscavam outras denominações, porque a católica não oferecia. E isso foi incomodando até que tivemos a ideia”, disse Eliana Ferreira.

Até que em 2015 foi realizado o primeiro "Curso de Libras: Multiplicando Mãos que Falam”. Cerca de 50 pessoas foram capacitadas e ainda receberam certificação da secretaria Municipal de Educação. Em 2016, os interpretes passaram a atuar na igreja com o apoio dos instrutores.

"Hoje eu me sinto incluída na igreja”, diz deficiente auditiva
 
Hoje, Sandriane diz que se sente incluída na igreja devido a iniciativa dos voluntários.

Aos 27 anos, Sandriane Sepulcro de Almeida Ferovante ficou totalmente surda devido a uma doença degenerativa adquirida durante a gravidez. Ela que sempre foi assídua à igreja, depois da doença começou a se distanciar das missas, por não entender o que era dito no altar. Seis anos depois, após conhecer a língua dos sinais e contar com a tradução durante as celebrações, Sandrine diz que se sente incluída. 

"É muito importante para mim, entender o que o padre está dizendo. Não faz bem apenas ao meu lado espiritual, mas também como pessoa, por me sentir incluída. Nós surdos também sentimos necessidade de buscar a palavra de Deus!”, disse Sandrine. Apesar de surda, ela fala normalmente e faz leitura labial quando a pessoa está próxima. E foi assim que se comunicou durante a entrevista.

Mas não foi apenas na igreja que a Libras mudou a vida de Sandrine. Hoje, a filha Ana Luiza de nove anos, que também possui problemas de audição, já conhece a língua dos sinais e interage com a mãe e outros surdos. Ela também ajuda outros surdos na empresa de motores onde trabalha e pretende fazer um curso técnico para se profissionalizar na língua.

Libras é minha paixão!

Professora há mais de 20 anos, Vânia Ferovante Helmer, que também é membro da família de Sandrine, buscou a língua de sinais para ajudá-la e acabou se apaixonando. Ela diz se sentir orgulhosa com os resultados do trabalho que o grupo desempenha. "Eu faço por amor, deixo qualquer coisa para ser interprete na igreja ou qualquer outra ação voluntária. O papel do interprete é muito importante, pois os surdos acreditam no que falamos”, disse. 

Vânia trabalha com crianças surdas e também fala da importância em todos nós aprendermos a língua dos sinais. "Eu vejo a felicidade das crianças surdas quando começam a entender as coisas e quando conseguem se comunicar com as outras crianças. A Libras deveria ser ensinada nas escolas para que os surdos pudessem ser bem atendidos em qualquer local público, num banco, num consultório”, ressaltou a professora.

Mais voluntários
 
Quem possuir conhecimento da Língua dos Sinais pode se tornar voluntário do projeto.

O grupo de interpretes da comunidade Sagrado Coração de Jesus precisa de mais voluntários. Apesar da disponibilidade dos membros atuais, ainda não é possível fazer a tradução de todas as missas, pois o grupo ainda é pequeno. Para isso o curso de formação deve ter continuidade para formar mais interpretes. Mas, não pode ser realizado neste ano por falta de apoio de instituições de ensino para dar suporte.

Eliana Ferreira Reis de Mello garante que o grupo está trabalhando para que no próximo ano uma nova edição do curso seja realizada. Enquanto novos interpretes não são formados, o grupo convida a quem possui o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais a se tornar um voluntário também. O contato deve ser feito pelo email librasigreja@gmail.com ou pelo telefone (27) 3373-1900.





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