Obras da Prefeitura na Juparanã para dar vazão ao Rio Pequeno diminui nível da lagoa

A Prefeitura de Linhares garante que a abertura do canal não está oferecendo prejuízo, e por isso, não há data prevista para seu fechamento.

Obras da Prefeitura na Juparanã para dar vazão ao Rio Pequeno diminui nível da lagoa
Tristeza. Este é o sentimento dos pescadores que veem a cada dia, o nível da Lagoa Juparanã diminuir. Eles começaram a perceber o desnível com a seca prolongada que atinge a região, mas, a situação teria se agravado após a obra emergencial adotada pela Prefeitura de Linhares para melhorar o fluxo de água no Rio Pequeno desde que as águas do manancial foram contaminadas por uma mancha escura há uma semana. O problema deixou mais de 80 mil linharenses sem água nas torneiras.

"Eles estão aprofundando o nível da Juparanã mais de três metros e a água vai descer toda para o Rio Pequeno. É uma coisa que eu nunca vi. Tinham que abrir no Rio São José, que abastece a Lagoa Juparanã. Lá está tudo fechado", explicou o presidente da Colônia de Pescadores de Linhares, Milton Jorge.

Os pescadores acostumados com a abundância de água garantem: a água da lagoa já baixou mais de um metro. Hoje, onde as embarcações plainavam sobre a lâmina d´água, é tudo terra firme. "Se não está chovendo para o lado de Minas Gerais, se não está abastecendo a Juparanã, e eles estão tirando o que tem, não vai ter mais água nenhuma", alertou Milton Jorge.

A obra é assustadora aos olhos de quem sempre viveu da pesca na Juparanã. Um destes pescadores é o João Foreste, de 63 anos, com 40 dedicados exclusivamente à pesca na maior lagoa de água doce do Brasil. Ele frisa que nunca viu nada parecido. "De 30 dias para cá, está secando mais ainda. É a primeira vez que fica tão seco assim".

O diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Gelson Suave, explicou em coletiva de imprensa que o objetivo da obra, que está sendo feita na boca da Lagoa Juparanã, no encontro com o Rio Pequeno, é aumentar o fluxo do rio para que as impurezas que estiverem no manancial sigam em direção ao Rio Doce.

O primeiro exame das águas do rio indicou a presença de cianobactéria, que pode ser nociva à saúde humana. Na sexta-feira (25), o município informou que a mancha havia se dissipado e testes laboratoriais apontaram que a água já podia ser tratada pelo Saae. O abastecimento já está normalizado.

Engenheiro se manifesta

Para o engenheiro ambiental Marcos Aurélio de Almeida, se o canal continuar aberto na boca do rio, a Lagoa Juparanã vai secar ainda mais. E é aí que mora o grande alarde. O grande perigo.  Ele explica que se o canal que eles aprofundaram chegar ao mesmo nível da água que sai no Rio Doce, o sistema hidrológico do Rio Pequeno vai acabar, vai parar. 

"A lagoa vai estar mais funda, abaixo da profundidade do canal e não vai ter mais jeito. Por mais que cavarem, a água não vai subir para poder pegar o leito do rio”, exemplifica o engenheiro ambiental. 

Prefeitura de Linhares diz que obra vai continuar

Mas, a Prefeitura de Linhares pensa o contrário dos pescadores e do engenheiro ambiental. Segundo a secretaria de Meio Ambiente, o nível da Lagoa Juparanã se mantém o mesmo desde a semana passada. Os trabalhos realizados até o momento foram no sentido de aumentar a vazão de água que entra no Rio Pequeno, mas nenhuma intervenção foi realizada na saída, ou seja, no encontro do Rio Pequeno com o Rio Doce. Sendo assim, não há qualquer possibilidade dos trabalhos que estão sendo realizados terem influenciado na queda do nível de água da Lagoa Juparanã.
 
A Prefeitura de Linhares garante que obra é necessária e que vai continuar com limpeza ade canal.
 
 
Ainda de acordo com a secretaria, para a Juparanã apresentar uma queda de meio metro em sua lâmina de água seria necessária a retirada de 31,5 bilhões de litros de água, o que daria para abastecer uma cidade do tamanho de São Paulo, uma cidade com cerca de 12 milhões de habitantes, durante 10 dias.

A prefeitura informou ainda que, antes do início dos trabalhos de limpeza do canal, o município fez uma medição que constatou um desnível de 12 centímetros entre a Lagoa Juparanã e o Rio Doce, lembrando que a extensão total do Rio Pequeno corresponde a 13 quilômetros. O número representa um centímetro de desnível por quilômetro.

Ainda de acordo com a prefeitura, os dados não representam um deslocamento de água além do normal. O monitoramento do nível da água é verificado diariamente. Não há queda de nível de água. O esvaziamento da lagoa, quando é registrado, ocorre por motivos climáticos. Como a abertura do canal não está oferecendo prejuízo, não há data prevista para seu fechamento.

Iema vai intervir

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou que uma equipe da Gerência de Fiscalização do Instituto irá ao local e embargará qualquer intervenção caracterizada como dragagem (aprofundamento superior a 80cm), mas permitirá a continuidade das operações de limpeza da calha.

O Iema disse também que a prefeitura será intimada a buscar o licenciamento ambiental no órgão e a outorga de intervenção em curso hídrico à Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh). Assim que o município realizar a manifestação dos requerimentos, Iema e Agerh se comprometeram a realizar as análises coordenadas no menor prazo possível. Com informações do Gazeta Online.






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