Moradores acusam fábrica de sucos de poluir rio que era limpo e rico em peixes, no Santa Cruz; vídeo

Os moradores que moram próximo ao Rio das Pedras têm que conviver com o mau cheiro e mosquitos; Leão Alimentos e Bebidas se manifesta.

Moradores acusam fábrica de sucos de poluir rio que era limpo e rico em peixes, no Santa Cruz; vídeo
Um rio que era limpo, rico em peixes, fonte de renda de muitos moradores e que foi transformado numa verdadeira lagoa de produtos químicos. Este cenário faz parte da rotina de quem reside nas proximidades do Rio das Pedras, no bairro Santa Cruz. Lá, o mau cheiro é insuportável e os mosquitos fazem a festa. Os moradores e produtores rurais da região garantem: o rio que servia para lavar roupa e para tomar banho virou um pântano de dejetos a partir de 2010, por uma fábrica de sucos, a Mais Indústria de Alimentos, propriedade da Coca-Cola, hoje com a marca Leão Bebidas e Alimentos Ltda.

"Minha mãe criava peixes para vender. Mas o rio ficou podre e hoje virou uma lagoa de esgoto. Mas, a Sucos Mais é muito poderosa, tem muito dinheiro e consegue fazer tudo. Eu só não tenho provas, mas, que foi a Sucos Mais, foi”, disse a dona de casa Valdinéia Zanetti Trevizani, de 43 anos, que residiu nas proximidades há mais de 30 anos. 

Ela destaca que uma coisa que a indústria de bebidas e alimentos deveria fazer é preservar o meio ambiente. "O rio era a nossa diversão, a gente tomava banho nele, lavava louça”, reforçou. A moradora revelou que o caso foi parar na Justiça, mas, que até hoje nenhuma decisão foi apresentada. "Anexamos no processo as fotos de como o rio era lindo e limpo. Isso aqui era um paraíso”, disse em tom de tristeza e desapontamento.

Um relatório técnico produzido em conjunto entre o Observatório de Conflitos do Campo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Associação de Geógrafos Brasileiros, apontou que o trecho do Córrego das Pedras, dentro de uma propriedade agrícola da região, está contaminado pelo efluente industrial lançado pela fábrica de sucos. Todavia, o resultado apresentado não foi suficiente para que o Ministério Público Estadual tivesse uma postura mais enérgica sobre o caso.
 
A dona de casa Valdineia Trevizani disse que o rio era limpo em peixes e chamou a indústria de poderosa.
 
 
Empresa nunca reuniu a comunidade

A dona de casa Adilva Loureiro Costa Brites também reside no local há mais de 30 anos, desde quando o bairro Santa Cruz foi fundado. E também acusa a empresa poluir o rio. Uma das maiores reclamações dela é a quantidade de mosquitos e o mau cheiro. "Tem dias que o mau cheiro é insuportável. E à noite os mosquitos não dão sossego. Era uma lagoa especial, a gente usava a água até para cozinhar”, disse.
 
A dona de casa contou que nunca a empresa reuniu os moradores que moram perto do rio para explicar a transformação do rio e levar soluções ou medidas para minimizar, pelo menos, o mau cheiro. Ela também revelou que a água do rio era utilizada para fazer a irrigação de plantações de café que existiam na região. Mas, quando o equipamento era ligado o mau cheiro tomava conta do bairro inteiro. "A direção da escola pediu para não ligar mais por causa dos alunos e para não atrapalhar as refeições”, disse. 

Adilva destacou que um morador que vivia da produção de verduras e hortaliças teve que acabar com toda a produção depois que o rio foi poluído.

Empresa não vai ao local há 6 meses

Segundo o morador Josias Costa Brites que também está no bairro desde a sua fundação as plantações de café e maracujá eram irrigadas com a água do rio que era rico em tilápias. "Hoje o que a gente vê é peixe boiando, morrendo”, destacou. Josias explica que quando chove a situação piora e muito. "Os dejetos vem para a rua e por pouco não invade a nossa casa”.

O morador afirma que há cerca de seis meses nenhum funcionário da Leão Bebidas e Alimentos vai ao local. "Sempre tinha um funcionário aqui recolhendo água que segundo ele era para análises, testes. Sumiu todo mundo”.

Para o montador Dirceu Arnaldo, a comunidade é obrigada a aceitar a poluição, pois não tem aonde recorrer. "Os moradores e agricultores prejudicados com a contaminação do córrego são obrigados a aceitar a situação, ainda mais depois da assinatura desse documento. Eles estão sem ter a quem recorrer”, disse.
 
 O rio era usado para irrigar plantações da região e tinha peixes em abundância.

MP denuncia a empresa pro danos no Córrego do Arroz

O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) denunciou a empresa à Justiça por danos ambientais nas comunidades de Córrego das Pedras e Córrego do Arroz – este último localizado no bairro Canivete –, e ajuizou a Ação Civil Pública nº 0005536-54.2010.08.0030. No entanto, no dia 03 de junho deste ano, o MPES publicou a sentença definitiva: a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) entre o órgão e a empresa. O TAC seria uma espécie de "carta de liberdade” para que a empresa continuasse lançando efluentes no manancial. 

Em relação à tubulação do Córrego do Arroz, no bairro Canivete, a empresa afirmou que obra, concluída há mais de cinco anos, está devidamente licenciada pelos órgãos competentes. "Mesmo assim, até hoje, a Leão não fez qualquer uso da mesma. Eventuais obras que estejam sendo realizadas na região, neste momento, não estão sob responsabilidade ou relacionadas diretamente à empresa”, acrescentou.

Leão garante que efluentes são tratados

A Leão Bebidas e Alimentos, por meio de Nota, ressaltou que todo efluente lançado no Córrego das Pedras é 100% tratado nas instalações de sua ETE (Estação de Tratamento de Efluentes) com os mais altos padrões de tecnologia e está integralmente de acordo com a outorga emitida pelo órgão competente e consequentemente fiscalização, mantendo assim a operação em conformidade com o controle quantitativo e qualitativo exigidos pela legislação aplicável.
 
As fotos e vídeo são do Site de Linhares.






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