Fé: Memórias que vem do alto da Igrejinha da Pedra, em Ibiraçu

Conheça a bela história da igreja construída no alto de uma pedra, às margens da BR 101, em Ibiraçu

Fé: Memórias que vem do alto da Igrejinha da Pedra, em Ibiraçu

De muito longe já é possível vê-la, quase minúscula, bem no alto de uma pedra. Pequena no tamanho, mas imponente em significados, memórias e boas lembranças. Caso já tenha passado pela BR 101 Norte, no trecho de Ibiraçu, certamente você já deve ter notado a presença de uma igrejinha construída sobre uma rocha e se perguntado os motivos dela estar exatamente naquele ponto. Essa mesma curiosidade nos levou até lá.

A religiosidade e a devoção a Santo Antônio era traço marcante da família, e assim como os pais e a irmã, com Diógenes Antônio Vescovi Modenesi não era diferente. Ainda mais depois que em meados de 1995, com apenas 34 anos, ele foi diagnosticado com um câncer linfático. Jovem e com uma vida inteira pela frente, a notícia caiu como uma bomba pare ele e a família.

Diógenes então começou o tratamento à base de sessões de quimioterapia, em constantes viagens a São Paulo, e entre uma viagem e outra, ele decidiu juntamente com o pai Artelino Modenesi, a mãe, Santa Vescovi e também a irmã, Fátima Modenesi, fazer uma promessa caso se curasse da doença.

"Estávamos conversando em casa e falamos para ele fazer uma promessa em agradecimento, pois tínhamos muita fé que ele ficaria livre do câncer. Ele logo escolheu um santo para homenagear, e por gostar muito de Santo Antônio e ser devoto, a opção escolhida foi erguer uma pequena igreja no alto de uma pedra", detalhou Fátima.

Mas a igrejinha que se vê ao passar pela BR inicialmente não seria no local onde está. A intenção de Diógenes era construí-la em outro local, ainda mais alto. Entretanto, ele e a família optaram por mudar o lugar, devido às dificuldades que encontrariam para levar o material.

"Ele disse para papai: 'Vamos fazer na pedra preta'. Mas papai disse que lá seria muito complicado e que precisaria de uma escada para ter acesso e levar o cimento e as outras coisas. Foi aí que escolhemos esse local", explicou Fátima.

O adeus inesperado

A construção da igrejinha da pedra ou igrejinha de Santo Antônio, como é conhecida, começou no fim de 1997. No ano seguinte, boa parte já estava construída e a empolgação de Diógenes era grande por conta da evolução do tratamento contra o câncer linfático. Mas o sonho de ver materializar a promessa que havia feito à família e a Santo Antônio foi interrompida da pior maneira possível.

O dia 7 de março de 1998 tornou-se uma triste lembrança para a família... já curado do câncer e há poucos dias de ser liberado do tratamento pela equipe médica que o acompanhava, Díogenes partiu de forma repentina e inesperada, em uma fatalidade que chocou a cidade de Ibiraçu, como contado pela irmã.

"A igrejinha já estava no meio e ele faleceu. Diógenes estava em Barra do Sahy, em Aracruz e entrou no mar. Não sabemos ao certo o que aconteceu, mas ele acabou se afogando. Ficamos atônitos... meu irmão era muito querido em Ibiraçu, foi uma comoção na cidade. Essa fatalidade foi em um sábado. No dia 11, ele iria a São Paulo para ser completamente liberado do tratamento. Já estava curado", recordou-se.

Meses depois, mais precisamente no dia 5 de junho de 1998, data em que Diógenes completaria 37 anos, a igrejinha foi inaugurada com uma celebração. A partir desse dia, o local ganhou um novo significado à família: o que antes seria um agradecimento em forma de promessa pela cura do câncer se transformara em uma memória viva do ente querido.

"Isso daqui é o retrato e o espelho fiel do Diógenes. Representa humildade, simplicidade e contato com a natureza. E o Diógenes levava a vida exatamente dessa maneira", disse Fátima. Até hoje a dor da perda não passa, mas quando estou aqui sinto que estou em contato com meu filho, e me traz paz e conforto", contou Santa.

Romaria

Do dia em que foi inaugurada em diante a igrejinha virou local de orações e pedidos de muitos desconhecidos que passam pela rodovia e param para observá-la. É comum encontrar no local doações em dinheiro, cartas em agradecimentos, pedidos de orações entre outras coisas. Mas uma história em especial é lembrada pela família, como narrado por Fátima.

"Levei meu pai em um hospital em João Neiva e quando cheguei à recepção, a atendente foi preencher nossa ficha, viu que éramos de Ibiraçu e disse que diariamente se deslocava da Serra, onde mora, para lá. No caminho ela sempre passava e observava a igrejinha, e que tinha muita vontade de um dia subir para agradecer por ter conseguido pagar a casa própria. Falei então que se ela quisesse mesmo ir até lá, bastava nos procurar, pois estava falando justamente com os responsáveis pela igrejinha", recordou-se a irmã de Diógenes.

Mais do que uma homenagem e lembranças de Diógenes, a Igrejinha hoje é um local de devoção, muitos significados e sensações para inúmeras pessoas. Não importa se da família ou completos desconhecidos, que de alguma maneira se identificam com tudo que envolve o local.

"Muitas pessoas nos pedem para vir aqui. É gratificante e emocionante. Saber que a obra do meu irmão de alguma maneira ajuda na vida dos outros, é nos dá alegria, pois o Diógenes gostava de viver dessa maneira. Mesmo não estando mais entre nós, ele continua muito presente, seja quando estamos aqui ou trazendo conforto para pessoas que fazem questão de vir até a igreja. A sensação que temos é que aqui de cima ele continua vivo".

Fonte e fotos: Jornal A Gazeta





COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA