Exemplo: Professor de 74 anos faz Direito após ser agredido por alunos

Ele quer usar a advocacia para defender professores

Exemplo: Professor de 74 anos faz Direito após ser agredido por alunos
Após se formar em Pedagogia em 2014, e em Teologia, em 2016, o professor José Carlos da Silva, de 74 anos, se prepara para mais uma formatura. Ele conclui no final do ano o curso de Direito, do qual é aluno na Faculdade Pitágoras de Linhares. Foi a violência dentro da escola que levou o professor a se dedicar ao terceiro curso superior. Lecionando há quase 50 anos, ele conta que deixou a sala de aula após ser agredido e até ameaçado de morte, em momentos distintos, por alunos de uma escola do bairro Planalto, em Linhares.

"Estava andando pelo corredor da escola, junto com outros estudantes do ensino fundamental, quando um aluno me deu um murro no peito, sem motivo nenhum. Eu não o conhecia e ele não era aluno das salas em que eu lecionava.” Em outra ocasião, ele recebeu uma ameaça de morte. O aluno me disse que estava com as notas baixas e que ele resolvia tudo na bala, segundo o professor. "Isso fez com que eu tivesse a iniciativa de estudar Direito e, mais à frente, se por motivo de agressão algum professor precisar desse meu apoio profissional, eu estarei, voluntariamente, à disposição”, declarou o futuro advogado José Carlos.

Mas quem pensa que ele pretende parar por aí se engana. José Carlos garante que no próximo ano prestará vestibular para o curso de Administração na Faculdade de Ensino Superior de Linhares (Faceli). Antes, diz que vai fazer as provas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para, em seguida, atuar na área criminal. Para chegar a exercer de fato a profissão, o universitário está no caminho certo. Ele conta que no simulado da OAB do ano passado, feito na faculdade, das 80 perguntas do teste, ele acertou 78.

Já em 2017, em outro simulado da instituição, das 80 questões, ele acertou 71. "No ano passado, em um curso particular, eu também fiz o simulado e fechei a prova. A média para a aprovação dos exames da OAB é de 50%”, explicou o universitário. Atualmente, José Carlos dá aulas particulares e se dedica aos estudos do curso superior por pelo menos quatro horas por dia, quando não está na faculdade.

Dedicação e foco como exemplos para os jovens

O esforço, a dedicação e o foco nos estudos fizeram de José Carlos da Silva, 74, aluno do 9º período do curso de Direito, um exemplo para a classe, formada por cerca de 40 estudantes que se espelham na dedicação do experiente colega para seguirem em frente, rumo à formatura, prevista para o final do ano.

A estudante Amanda dos Santos Marin, 21, afirma que o colega de sala é o maior incentivo dela em dar prosseguimento aos estudos. "Às vezes, por diversos motivos, nós pensamos em desistir ou achamos que uma matéria é difícil, mas ele está sempre aqui, para nos mostrar que tudo é possível. Ele é muito dedicado e esforçado, e não deixa que nenhuma limitação o atrapalhe no decorrer do curso.”

Já o aluno Wesley Damásio de Oliveira, 22, revela a admiração pelo colega. "Ele já tem dois cursos superiores e, agora, concluindo o terceiro. Toda vez que chego na faculdade eu o encontro, seja na sala de aula, na biblioteca, ou no laboratório. Ele está sempre presente. Por ser mais experiente, nos mostra a realidade de uma outra forma. É gratificante ter alguém com essa experiência de vida junto a nós”, destacou Wesley.

"A relação na sala é de igualdade”

Engrossando a lista de vítimas das frequentes agressões que acontecem cada vez mais dentro das escolas, o professor José Carlos da Silva, de 74 anos, transformou a violência em motivação para se tornar advogado. 

Por que resolveu fazer seu terceiro curso?
Em 2013 fui agredido dentro da escola onde trabalhava. No mesmo ano fui ameaçado de morte. O aluno me disse: 'professor, minhas notas estão muito baixas e eu resolvo tudo na bala'. Não denunciei nenhum deles por medo de represálias. Naquele momento, resolvi me dedicar aos estudos para fazer o curso de Direito. Futuramente, o professor que precisar do meu apoio, estarei à disposição para ajudar, voluntariamente, através dessa minha nova profissão.

Pela idade, o senhor serve de exemplo para muita gente. Pretende colaborar também nesse sentido, de incentivar outros idosos a voltar à sala de aula?
Pretendo sim, fazer trabalhos comunitários com palestras motivacionais para os mais velhos, sobre o potencial que cada um de nós tem, relacionado aos desafios de estudar e de se formar em cursos superiores, mesmo depois dos 50, 60, 70 anos.

Após a formatura e a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pretende atuar em que área do Direito?
Criminalista. Apesar de ser um grão de arroz, farei um trabalho junto com as demais autoridades para diminuir o índice de violência que, infelizmente, perdemos o controle.

Como se sente sendo o mais velho em uma turma de tantos jovens?
A relação na sala de aula é de igual para igual, a troca de conhecimento é simultânea. Assim como o tratamento dos professores, que também é igual para comigo e com os meus colegas.

Fonte: Jornal A Tribuna | Tribuna Online




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